quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O que falta

É uma mania boba - como boa parte das manias - essa minha vontade de resolver assuntos pendentes só nos momentos "especiais", propícios para resolver coisas do tipo. Confuso ? É que eu estou sempre procurando o que culpar para não cumprir um dever,como por exemplo,acabei de fazer um rabo-de-cavalo porque talvez o meu cabelo solto seja um empecilho para escrever. É idiota. Lembrava-me que não vinha ao blog há tempos,estava com tempo de sobra desde o final de semana passado,quando acabaram as provas,mas não vim ao blog. E por quê ? Porque os dias estavam muito quentes - e eu sequer podia aproveitar a praia - , porque a rua estava muito movimentada e barulhenta,porque a mesa estava cheia de livros e bagunçada,logo seria desconfortável e prejudicaria qualquer leitura ou qualquer composição.Essas coisas arruinam qualquer plano, de verdade.

É bem patético. Mas quem expia pela minha irresponsabilidade ou indisposição é sempre o calor, ou a TV da sala que está no volume máximo,ou o dia que está pela metade e não permite grandes realizações. Mas,por favor, esse calor do inferno só me deixa com um único desejo : dormir com o ar condicionado na menor temperatura possível. Especialmente à tarde. Culpo a geografia,culpo a maldita  proximidade com a linha do equador,culpo os raios perpendiculares que incidem aqui,culpo todos os fatores sociais,biológicos e seja lá de que área por diminuir minha "força de potência". Culpo também os dubladores da Nickelodeon por ter uma voz tão insuportável e estridente,que meu irmão insiste em ouvir no volume,sei lá,85, na sala.Logo lá. Culpo as horas por terem passado tão rápido ou tão devagar e me fazerem desistir dos meus planos.

É verdade que se essas coisas mínimas tivessem menos relevância e impacto sobre mim eu já teria feito muitas das coisas que ainda não fiz. Mas tudo seria bem mais simples se eu não tivesse essa voz tão infantil,que não desperta  nem admiração nem respeito - operadores de telemarketing já perguntaram: 'o seu papai ou a sua mamãe estão em casa?' - ,pelo contrário.Acham que eu tenho uns 7 anos ou que sou uma mimada,ou sei lá.Além disso, tudo seria bem melhor se a temperatura da terra fosse sempre agradável,se as pessoas não falassem gritando,se os automóveis não fossem tão barulhentos e tão luminosos - Como são insuportáveis aquelas luzes ! - e tão fedorentos com aqueles milhares de gases tóxicos que adoecem crianças e idosos e jovens até. Ah,se houvesse menos carros ! Ah,se a cidade fosse toda bem decorada,de uma arquitetura e planejamento urbano impecáveis. Ah,se a gente soubesse ao menos colocar lixo no lixo, dar bons dias sem sussurrar. Ah, se tocasse menos pagode,funk,forró ou rock deprê por aí. Ah, se a gente se preocupasse com os velhinhos e com o futuro das crianças. Mas a gente só se preocupa com o que nos diz respeito,por isso  não dá pra confiar em ninguém. E até que isso mude,o melhor é virar a cara para não ver o garoto do semáforo com os olhos esbugalhados de tanta droga, e não oferecer um pouco do volumoso banquete de nossas casas para aqueles que descobrem o seu cardápio no lixo.

"Life isn't about waiting for the storm to pass,It's about learning to dance in the rain !"

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cansados

"Se naquele instante - refletiu Eugênio - caísse na Terra um habitante de Marte, havia de ficar embasbacado ao verificar que num dia tão maravilhosamente belo e macio, de sol tão dourado, os homens em sua maioria estavam metidos em escritórios, oficinas, fábricas... E se perguntasse a qualquer um deles: 'Homem, por que trabalhas com tanta fúria durante todas as horas de sol?' - ouviria esta resposta singular: 'Para ganhar a vida'. E no entanto a vida ali estava a se oferecer toda, numa gratuidade milagrosa. Os homens viviam tão ofuscados por desejos ambiciosos que nem sequer davam por ela. Nem com todas as conquistas da inteligência tinham descoberto um meio de trabalhar menos e viver mais. Agitavam-se na Terra e não se conheciam uns aos outros, não se amavam como deviam. A competição os transformava em inimigos. E havia muitos séculos, tinham crucificado um profeta que se esforçava por lhes mostrar que eles eram irmãos, apenas e sempre irmãos."
( Olhai os lírios do campo )

Ainda busco compreender essa doença crônica de que somos todos vítimas,mas sinto que já nascemos com a noção de vida certamente perdida,como se por trás de todas nossas vontades tolas,nossas exigências sociais e deveres sociais houvesse apenas um risquinho fraco da nossa essência.Não que o homem nasce bom,mas a sociedade o corrompe,mas como se o homem já não soubesse procurar com as suas próprias mãos quem ele é. Nós queremos ser algo,mas dificilmente conseguimos ser relevantes para alguém. É o enxame cheio de abelhas que não se olham umas para as outras,porém, se uma abelha é retirada do enxame,todas as outras ficam raivosas- como se a presença de tal abelha só fosse percebida quando ela foi tirada à força do enxame- .E com que facilidade me seduzem as vitrines,não consigo resistir a tantas coisas lindas,bem feitas,criativas e pago sem hesitar altos valores por essas coisinhas simplórias.E depois eu lembro,com vergonha,que o preço de um vestido meu é metade do salário de alguém,e então tento evitar a culpa,mea maxima culpa, que é desconfortável,dói muito.E eu tento anular essas sensações aqui dentro,talvez porque sejam profundas demais,talvez porque eu seja culpada demais.Talvez porque eu desaprendi a lidar com o que eu faço de errado.Tudo tem solução.Tudo é muito fácil,só não é pra quem tem a vida difícil.Talvez eu não devesse pensar no quanto odeio ter que aprender certas coisas,talvez eu só devesse engolir todos os excretas sociais: a má qualidade de vida (lamento acreditar que dificilmente todos vão abandonar seus carros para andar de bike nas nossas utópicas ciclovias);assassinatos diários;o alcoolismo não comum,mas indispensável;o ceticismo para o quer que seja; o estímulo à desconfiança; as desapropriação de terras; o desrespeito às culturas; o trabalho mal feito de profissionais frustrados; a falta de integridade do homem; a sociedade líquida pouco preocupada com a sua ou a minha vida. Sinto que esta sociedade está no estado de dormência,como se ainda não tivesse despertado para o espetáculo que chamamos "vida",e talvez quando for notada a grandeza do seu sentido,ela cause no mínimo um arrepio sempre que pronunciada.

" Religion that God,our Father,accepts as pure and faultless is this: to look after orphans and widows in their distress and to keep oneself from being polluted by the world".

" o mata borrão absorve tudo e no fim da vida acaba confundindo as coisas por que passou ... O mata borrão parece gente !" ( Mário Quintana)

sábado, 4 de agosto de 2012

Por referências mais confiáveis


Tenho um certo temor em envelhecer e manter-me no passado,porque conheço gente que enche o peito para dizer que ainda escreve com aquelas máquinas de escrever e não usa um computador porque não e pronto,e também conheço uns que vivem a amaldiçoar nossos jovens, porque,segundo dizem, jovem,antigamente, respeitava e obedecia. Nosso país é indiscutivelmente atrasado em muitos aspectos,mas no que concerne ao atraso de ideias, somos especialistas. Enquanto em Londres satirizavam inteligentemente o trabalho mecânico e alienante na época da Primeira Revolução Industrial, por aqui o conceito de trabalho do século 19 predomina mesmo depois de quase 200 anos.Ainda são muitos os que acreditam na "mentira secular de trabalhar para viver e na rotina angustiante de viver para trabalhar".

Ao contrário dos pessimistas, tenho grandes esperanças nessa nova geração. O problema,como já afirmou Lucy Van Pelt, é a geração passada - "cada geração tem de ser capaz de culpar a geração anterior por seus problemas..."- . Prova maior disso são os nossos cargos administrativos ocupados quase que inteiramente por corruptos e incompetentes.Sem ética, sem conhecimento, sem preparo e sem opinião: nós jovens somos obrigados a respeitar essas pessoas, pelo simples fato de serem mais velhas.

E eu não consigo lidar com certos tipos de adultos sem pensar no quanto são incompetentes. Não dá para ter respeito por certos tipos.Seria ousadia demais dizer que conheço alguns jovens mais maduros que muitos cinquentões ? E batendo mais uma vez na tecla das palmadinhas proibidas, me espantei com o número de adultos que sentiriam falta de usar esse castigo com seus filhos, como se isso fosse essencial numa educação. Me parece mais um sinal de gente que foi criada para ficar caladinha e que nunca entendeu o que é uma conversa,em baixos tons preferencialmente. - Já falei o quanto odeio que gritem nos meus ouvidos ? Já repararam que quem não sabe convencer precisa gritar para se expressar ( muitas vezes por grunhidos ) ? Já perceberam como os nossos pais de família fazem questão de manisfestar sua fúria diante de um malfeito do filho,sem ao menos dizer por que algo é errado? Já viram como muitas pessoas adoram uma verdade absoluta ? -

Você não tem boas leituras: não deveria ser funcionário público. Você quer ser professor de universidades federais só para poder faltar por meses: é uma ameaça para o progresso ético e econômico. Você é semi-analfabeto : deveria receber atenção especial na escola, não ser elegido como deputado federal. Você deixa seus filhos adolescentes beberem e ainda chama os seus amiguinhos porque assim acha que eles aprendem esse tipo de vida dentro de casa e não nas ruas: você não deveria ser pai.

Mas ainda tem uns muito mal- instruídos,talvez com boas intenções, que mandam nossas crianças,nossos jovens, não responderem para os mais velhos, obedecerem,ficarem calados,quietinhos,aceitarem torturas mascaradas porque só dessa forma se ganha dinheiro.E assim,ideias criativas são bloqueadas,assim sonhos inigualáveis são reduzidos ao desejo de ter um carro novo,um apartamento bem localizado,um salário relativamente bom.Assim, nossos jovens revolucionários e sedentos por justiça vão perdendo o antigo compromisso com seus semelhantes,com seu povo. Queremos dinheiro,mas não somos educados para usá-lo de forma sábia - sabedoria ? por aqui ninguém se importa com isso -.

E o apelo só poderia ser para os jovens, porque ao entrar na vida adulta, há uma grande pressão daqueles que têm uma visão pequeninha,que tudo o que almejam é dinheiro para pagar as despesas- coisa que é muito importante,mas não é tudo-, ostentar seus bens, impor suas opiniões - digo impor, não oferecer - e que separam para nós,jovens,um futuro já conquistado, uma realidade imutável, um apelo grande para que nos convertamos a suas vidas de sonhos abandonados e valores fugazes.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sejamos bons jardineiros

Kimiko disse que ia contar uma história confidencial a respeito duma família norte-americana de suas relações. Pediu ao amigo que não lhe perguntasse nomes,porque ela não os revelaria.Pablo imaginou que Miss Hirota ia confiar-lhe um tenebroso segredo,um caso de assassínio ou incesto.

- Imagine - murmurou ela - que essa família possui em sua casa um jardim... Todos os sábados,o chefe corta a grama. Na época apropriada,poda as árvores, de vez em quando borrifa remédios nas plantas para matar parasitas... O jardim é lindo. Os membros da família o fotografam em cores. No verão comem e bebem à simbra de suas àrvores... No entanto, jamais comungam com o jardim, não têm intimidade com ele, não meditam sobre suas flores, sua grama, sua terra... Só pensam em comprar mais coisas para enfeitá-lo e torná-lo mais confortável: bancos,mesas, uma piscina pneumática, estatuetas de gesso... E ojardim continua incompreendido, um estranho... Não é horrível ?

Pablo soltou uma risada que chocou um pouco a japonesinha.Depois,baixando a voz à surdina oficial daquelas conversações, disse :

- Compreendo o que você quer dizer. Mas o homem americano, minha amiga, em geral tem a visão do engenheiro. E é essa visão que predomina no Ocidente. Queremos domesticar a natureza, domesticá-la,enfim,em nosso benefício.

O senhor embaixador

sábado, 7 de julho de 2012

Tédio ? Mas como ?


Em função do advento da tecnologia ... rs,brincadeira,isso não é uma dissertação argumentativa,então eu não preciso começar com "é notório afirmar...", nem fazer citações,nem alusão à História,nem ... nem nada,como esses professores medievais de redação mandam.É só a velha Laís analisando tudo e todos.Então,bastou as férias começarem pros amigos reclamarem do tédio e que não têm nada para fazer,que não vão viajar ,que ninguém chama pra sair, que só lavam louça e esperam a novela das sete passar.Mas é claro ! Se você programa o seu dia baseado na programação da Globo,não tem como seu dia não ser uma porcaria.

E sinceramente , não sei em que século essa galera vive.Como,como não ter o que fazer com tantos tablets , smartphones , revistas,livros ? O meu maior desafio durante as aulas era me controlar para não ler todas as notícias possíveis pelo meu Ipod e agora sim eu posso,posso ler todas as revistas que eu tanto amo , tenho a Super,tenho a Folha,tenho a Veja , tenho a BBC ,tenho twitter , tenho Instagram , tenho ... tenho o mundo.Tudo sem ter que esperar o Windows iniciar.

E estou aprendendo italiano e francês simultaneamente ( já que um curso não vai ser possível agora ),e pesquiso tudo o quero,inclusive coisas bem idiotas , vejo fotos maravilhosas e descubro ideias mais que inovadoras,discuto questões cara-a-cara com com os amigos pelo facetime,inteiramente grátis,grátis ! Desculpa , eu não sei mais o que é tédio .

De repente podem pensar - mas Laís,não tenho grana para isso - As condições são suas,dependendo delas faça um esforço,vale muito a pena.Entre  um Iphone e um Itouch 4,o segundo  é mais vantajoso,pois ele só não faz o que qualquer celular do século 20 faz,gasta menos bateria já que será menos utilizado  e sai bem mais em conta.Há muitos aplicativos para estabelecer comunicação,ligações com uso de chips é a mais antiga e mais usada,nem por isso é a melhor.

Quando ensinei para minha mãe como facetime funcionava,ela só conseguia dizer : "mas menina,isso não é possível !",e logo depois o Steve Jobs morreu e percebi que ele se tornou o amor secreto dela .Não parava de dizer que ele era um gênio e havia revolucionado a vida dela com o Iphone.Não posso discordar.Ela é uma senhora muito conservadora,mas admirou o trabalho do cara envolvido com alucinógenos e bastante estranho e arrogante.Também não comprei a biografia dele para ela,não quis acabar com o encanto.

E eu até dizia que um Ipad era dispensável se você tivesse um Iphone,mas como estava errada,como estava ! Eu não reconhecia o quão fundamental esse aparelho pode ser.Ler,assistir filmes,digitar,é tudo muito melhor com ele e com o tamanho ideal que ele tem.Se pensa em comprar um desses e está apertado,vá fundo e veja se consegue dar um jeitinho,vale a grana.Não concebo mais viagens sem estes aparelhinhos revolucionários.Andar pelo  Rio com o Iphone foi muito mais fácil ,não precisei de mapas nem ficar perguntando indicações para ninguém,você não vai alugar um carro para andar em cidades assim,o Iphone é muito útil para andar de ônibus,não tive nenhuma complicação,uma prova de que esses aparelhos podem ser complementos nas viagens tanto para a programação,para descobrir lugares menos óbvios e convencionais,quanto para localização.E claro,para fotos,que saem bem mais bonitas com os aplicativos para fotografia e são diretamente postados nas redes sociais.

Quando tinha um Nano de 1 Giga ( e ainda tem gente que duvida do avanço ) , meus pais já se encantavam com aquele teclado magnético macio e deslizante.Depois foi o  novo Nano,que parecia caber tudo.E agora que estamos bem à frente,já tem gente que solta a língua maldita pra dizer que faz mal para vida das pessoas,que a tendência é transpor a vida para o aparelho.

Gênio,o problema não é a tecnologia,mas gente sem visão,sem controle,que sempre transforma seus gostos em vícios.Aposto no compartilhamento de informações desses aparelhos,na interatividade,na praticidade,na simplicidade ( ponto crucial  e diferencial da Apple ),na descoberta de gostos,no refinamento dos conteúdos transmitidos.

Não cabe aqui a já ultrapassada discussão sobre e-books.Prefiro meus livros juntinho de mim,de modo mais literário e romântico,mas e-book não é coisa do demo não,calma lá.Ainda avalio se Ipads seriam bem utilizados nas escolas substituindo aqueles livros pesadíssimos.O fato é que deve haver uma solução pras dores nas minhas costas no fim do semestre em função da mochila pesada e do tanto de horas que passo sentada.E também não cabe aqui a tal da exclusão social,seria preciso  um estudo aprofundado.Mas para mim esses aparelhos vieram pra ajudar , cabe a mim a sabedoria de administrá-los como um aliado à vida.Os poetas vão ser contra,mas tenho certeza que o spleen e o cansaço da vida só impressionam quando estão organizados em versos e longe da nossa  realidade.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Minhas variações


Estou lendo Variações sobre o prazer,do Rubem Alves,e fora o fato de ter de esconder o título do livro pra que minha mãe não veja,a leitura está sendo muitíssimo saborosa.Saborosa porque,segundo as ideias do próprio autor e que o meu corpo chega a concordar,mata minha fome,me dá vida - ' a grande tristeza na vida humana,que começa na infância e continua até a morte ,é que ver e comer são operações diferentes " - O livro também  mostra como a civilização nega o prazer,na verdade sente que o prazer é algo errado,é inútil.E de fato,chamar alguém de inútil é uma sentença de morte porque nascemos para sermos úteis,devemos fazer algo útil.Mas nosso corpo clama por beleza,clama por boas sensações,que não tem utilidade,e executa funções,se torna uma ferramenta,antes de tudo para alcançar a felicidade e a satisfação do próprio corpo.Então o autor faz um convite: " que tal se o prazer,em todas suas variações,se tornar o âmago de sua vida ?"

No livro é feita a distinção entre duas feiras em que todas as coisas do mundo estão guardadas : a Feira das Utilidades e a Feira da Fruição.Na Feira das utilidades estão tudo que há de mais útil e "essencial": facas,computadores,canetas,médicos,engenheiros,pedreiros,inteligência - ferramenta para resolver problemas - e o corpo - ferramenta pra se obter diversas sensações.Ou seja,"a Feira das Utilidades não nos dá felicidade.Elas só nos dá felicidade com a possibilidade de chegar ao objeto de fruição.

Na minha feira de utilidades estaria a escola ( que ainda peca em sua utilidade por passar anos me dando as mesma aulas de sintaxe e também ao me dar aulas de trigonometria,que cá entre nós,é umas da coisas mais inúteis e insuportáveis já existentes),livros da escola,internet,maquiagem e enfim,vocês já entenderam.

Já na minha Feira de Fruição estariam as tortas de limão,ler um bom livro com calma,música,shows,flores,domingo chuvoso,vôlei,corrida,dança,fotografias,pizza da Vignoli,centro histórico,conversas,abraços,meu cabelo cheiroso,aulas de literatura e artes com meus professores maravilhosos,casquinha de caranguejo,viagens,museus,praias,fondue,árvores,Jardim Botânico do Rio,Gramado no Natal,Lençóis Maranhenses em julho, show de humor na Beira Mar em Fortaleza,livraria cultura em SP , montanhas-russas na Disney , Disney , acampamento NR, filmes bem feitos (de preferência com atores atraentes,fazer o que ....) , minhas amigas , fazer planos , ter tempo de sobra,mimar mamãe,mimar meu irmão,mimar vovó,frio na barriga,dormir equilibradamente,tapioca com doce de leite,alfajores Havanna,pêra cortadinha,ursos de pelúcia, yorkshires , Natal , família , férias , tempo , férias ,  família ,  férias  ...

" vida é uma fonte de alegria,e nosso pecado original é que temos tido muito pouca alegria ".

É  isso.Acho que falei demais do livro,mas ainda tem muito o que ler.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Humanistas e calculistas


Eu poderia começar venerando os humanistas,porque sei que nenhuma pessoa que tem um relacionamento tão bem sucedido com qualquer que seja a matéria de cálculo leria isso.Verdade ou não,posso dizer que quem se dá bem com números normalmente se enrola com as palavras e por isso tende a ridicularizar as matérias de humanas e línguas.Porque,segundo eles,são decorativas,sem mistério e desnecessárias.A pegunta frequente deles é : " pra quê eu vou querer saber disso ?"

A verdade é que eu nunca tomei um lado.Embora tenha certeza de que não pertenço ao mundo dos números e da objetividade,algumas coisa na área de humanas me faz sentir um grande ódio desses pseudo intelectuais,espertos e senhores da verdade.E é por isso também que eu ainda não decidi o que fazer da vida,mas isso fica para depois.

O fato é que li numa importante revista que o governo deveria abolir as aulas de filosofia,sociologia e artes da educação pública,pra que dessa forma se pudesse explorar de modo mais eficaz as matérias mais importantes,como Português,Ciências e Matemática.Decepcionante,porque quem disse isso é bastante instruído pra saber que não devemos privar nenhum ser do conhecimento.O argumento é que alunos de melhores condições sociais podiam se dar ao luxo de aprender quantas línguas quisessem e matérias menos relevantes que essas três.Não é nem um pouco fácil garantir um estudo igualitário,mas como uma educação pode ser de qualidade sem que seus alunos não tenham uma noção do que é arte ? Como exigir ética de milhares de adultos no futuro se estes foram,no passado,crianças que nunca tiveram uma aula de filosofia ?  Uns serão mais civilizados que outros ,isso é igualdade ? Pensei em algo como oficinas de reforço nas escolas públicas.Mas isso é ilusão,como muitos calculistas irão dizer.

Não ignoro a extrema relevância das ciências exatas,mas acredito,assim como Erico Verissimo,que devemos dar um sentido humano a tudo o que fazemos.Convivo com muitas pessoas calculistas e não é fácil me acostumar à falta de tato e insensibilidade.Algumas precisam passar pela cadeira do ITA de reintegração social,garanto.Sei também que precisamos abandonar as idealizações e aprender a sermos mais práticos.Sei que construções são importantes,sei que muita coisa da área de humanas é pura balela e que quem vive de teoria  não vive.Também amo a tecnologia,amo a busca,amo Arquitetura refinada e de bom gosto (há algo mais humano e calculista ao mesmo tempo que Arquitetura ? ),mas detesto ter que aprender a apertar parafuso,odeio o mecanismo e odeio a indiferença desses calculistas na matéria da alma.E acontece que o que eles chamam de ideologismo eu chamo de propósito.

As matérias de humanas são grandes impulsionadoras da reflexão.Tanto são que foram proibidas na época da Ditadura  as matérias de Sociologia,Redação,Filosofia e o estudo da língua Portuguesa foi restrito às análises sintáticas.Portanto,é evidente que não se pode privar ninguém do estudo destas matérias,já que elas ensinam,de certa forma,a pensar,e claro,a conhecer.Mas as ciências têm notório papel,pois não se vive só de cultura  e análises comportamentais.É fundamental desenvolver a saúde (e a socialização da medicina),possibilitar o transporte e diminuir distâncias geográficas e entender os fenômenos naturais para se obter vida digna.

Então,ficamos com Incidente em Antares mais uma vez :

(...) - O ensaio me pareceu muito bem craniado.Só notei que estás demasiadamente fascinado pela tecnologia.Daí a aceitar sem reservas a tecnocracia é um passo muito curto.
      - E que mal há nisso,num país em processo de desenvolvimento como o nosso ? O Brasil precisa  mais de cientistas e técnicos do que de helenistas,latinistas e estetas...
     - De acordo até certo ponto... Mas deixa também um lugarzinho na tua Sociedade Nova para os humanistas.A filosofia não é tão inútil quanto parece.E o homem necessita de música,de poesia e -que  diabo ! - precisa também aprender a usar o lazer que um dia a ciência,ajudada pela técnica,lhe há de proporcionar.Em suma,a técnica fornece os meios.O humanismo nos orienta quanto aos fins.E não concebo humanismo sem ciência.


Não lemos nem escrevemos poesia porque é bonitinho.Lemos e escrevemos poesia porque somos humanos.A raça humana está repleta de paixão.Medicina,advocacia,administração e engenharia são objetivos nobres e necessários pra manter-se vivo.Mas a poesia,beleza,romance,amor...é p vivemos - Sociedade dos poetas morto

quinta-feira, 15 de março de 2012

Não violência e sabedoria oriental

Lendo o texto "El poder de la no violencia" no meu livro de espanhol,que foi escrito pelo neto do Mahatma Gandhi e que fala sobre a habilidade dos pais na educação e punição,me lembrei de uma amiga minha,descendente de chineses e japoneses,que sempre que tirava uma nota na média chorava.Nós sempre dizíamos no jeitinho brasileiro de consolar: " Mas está na média,não é nota baixa" ,e ai mesmo que ela desabava.Mas houve um dia que ela explicou porque tanto choro,porque tanto drama (drama ao nosso ver).Disse que quando ela tirava uma nota assim,quem sofria era o pai dela,ele sentia que havia falhado.

Essa lição me tocou profundamente,porque temos o costume de não assumir responsabilidades,como brasileiros,como ocidentais,passamos a culpa,não nos preocupamos em ensinar,em fazer o melhor.Sou fã da filosofia oriental,porém ela me assusta em alguns aspectos (dizer o quê?).Uma vez,ainda num livro de espanhol,li que os orientais desconheciam a depressão,porque para eles a vida já é uma dor.Imagine ler algo assim na sexta série.Assusta ou não? Mas acho espetacular a vocação que os orientais têm para o conhecimento e a vontade de saber principalmente.Essa minha amiga,por exemplo,diz que não precisa estudar,que não se cobra muito (embora isso seja paradoxal com o que já disse sobre ela).Enquanto todos se matam de estudar nas muitas semanas de provas ela está se dedicando aos seus cães.Porém enquanto todos dormem durante as aulas ,ela está sempre questionando tudo e todos.Mais uma lição.

Então,como vi reaberta a discussão das pamaldinhas em crianças,que eu desde que tinha uns cinco anos já achava horrível e deselegante as mães das outras crianças baterem nelas,acho o texto abaixo bastante convincente.Palmada não ensina nada,os meus amigos de infância que mais apanhavam até hoje desobedecem com muita frequência.É como tratar escravos,que depois de "aprontar" iam para o tronco.Somos humanos,não bichos.Devemos aprender com o erro e não sofrer com o erro.Acho que é isso.E acho que criar uma lei para assegurar isso é o mesmo que chamar a nação de malcriada,de burros que não sabem educar.

O Dr. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do MK Institute, contou a seguinte história sobre a vida sem violência, na forma da habilidade de seus pais, em uma palestra proferida em junho de 2002 na Universidade de Porto Rico.
Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais, na instituição que meu avô havia fundado, e que ficava a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul.
Vivíamos no interior, em meio aos canaviais, e não tínhamos vizinhos; por isso minhas irmãs e eu sempre ficávamos entusiasmados com possibilidade de ir até a cidade para visitar os amigos ou ir ao cinema.
Certo dia meu pai me pediu que o levasse até a cidade, onde participaria de uma conferência durante o dia todo. Eu fiquei radiante com esta oportunidade. Como íamos até a cidade, minha mãe me deu uma lista de coisas que precisava do supermercado e, como passaríamos o dia todo, meu pai me pediu que tratasse de alguns assuntos pendentes, como levar o carro à oficina. Quando me despedi de meu pai ele me disse:
"Nós nos encontraremos aqui, às 17 horas, e voltaremos para casa juntos."

Depois de cumprir todas as tarefas, fui até o cinema mais próximo. Distraí-me tanto com o filme (um filme duplo de John Wayne) que esqueci da hora. Quando me dei conta eram 17h30. Corri até a oficina, peguei o carro e apressei-me a buscar meu pai.

Eram quase 18 horas. Ele me perguntou ansioso:
"Por que chegou tão tarde?"
Eu me sentia mal pelo ocorrido, e não tive coragem de dizer que estava vendo um filme de John Wayne. Então, lhe disse que o carro não ficara pronto, e que tivera que esperar. O que eu não sabia era que ele já havia telefonado para a oficina. Ao perceber que eu estava mentindo, me disse:
"Algo não está certo no modo como o tenho criado, porque você não teve a coragem de me dizer a verdade. Vou refletir sobre o que fiz de errado a você. Caminharei as 18 milhas até nossa casa para pensar sobre isso."
Assim, vestido em suas melhores roupas e calçando sapatos elegantes, começou a caminhar para casa pela estrada de terra sem iluminação.
Não pude deixá-lo sozinho... Guiei por 5 horas e meia atrás dele... Vendo meu pai sofrer por causa de uma mentira estúpida que eu havia dito.
Decidi ali mesmo que nunca mais mentiria.
Muitas vezes me lembro deste episódio e penso: "Se ele tivesse me castigado da maneira como nós castigamos nossos filhos, será que teria aprendido a lição?" Não, não creio. Teria sofrido o castigo e continuaria fazendo o mesmo. Mas esta ação não-violenta foi tão forte que ficou impressa na memória como se fosse ontem.

"Este é o poder da vida sem violência."

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Algo sobre precisar querer


"Eu creio que a senhora sonha talvez demais.Sonhará uns amores de romance,quase impossíveis ? Digo-lhe que faz mal,que é melhor,muito melhor contentar-se com a realidade; se ela não é tão brilhante quando os sonhos,tem pelo menos a vantagem de existir"
A mão e a luva,Machado de Assis

E bem que eu gostaria de me contentar com o que está na minha frente,mas o sabor não é o mesmo,na verdade isso tudo é tão insosso.Eu só quero o que já passou,e não voltará nem na mesma intensidade,nem parecido,nem de jeito nenhum.Eu só quero um futuro distante,e reduzi-lo em semanas.Eu só quero terminar isso e começar algo novo - E essa é uma obsessão minha,querer finalizar o mais rápido possível e começar pelo começo,mas um novo começo - E que se dane a tal da sociedade pós-moderna,que acredita apenas na finitude,eu infelizmente faço parte dela e já fui contaminada.E por falar em sociedade pós-moderna,de valores líquidos e de um mundo enfestado de turistas e quase nenhum peregrino ( o que importa para o peregrino é a busca,entrar em contato com o novo,fazer parte,enquanto o turista se importa apenas com a chegada e os prazeres),eu acredito que não é um caso perdido,não é verdade que reconhecer o problema é o passo mais importante ? O que há ? Os problemas do mundo me afetam profundamente,mas eu passo mais tempo desejando o momento em que esses problemas forem solucionados do que repetindo o que é óbvio.Eu prefiro me concentrar no remédio que na doença.Há uma certa esperança que me motiva e que torna esse aglomerado de confusões,males e dificuldades,que deve-se ressaltar são individuais e pertencentes ao mundo inteiro,menos sufocante.E,infelizmente,devo admitir que vou continuar sonhando com o mais difícil.Com um rapaz gentil,bonito,paciente,inteligente e extremamente apaixonado.Com ruas lindas,limpas e hamornicamente decoradas por onde eu possa passear e suspirar com tanta beleza.Com vizinhos que se ofereçam para me ajudar e que olhem para os lados enquanto caminham.Continuarei acreditando que daqui a pouco tempo estudantes mil vezes mais preparados e menos estressados estarão sendo formados.Que essa educação para defunto e esses caradirus que chamam de escolas estarão erradicados.Que eu vou poder viajar com maior facilidade e reencontrar aqueles que amo.Acredito,sobretudo,que algum dia,quando eu estiver verdadeiramente triste,pessoas olharão o meu rosto,peguntarão se há algo errado e vão,finalmente,ouvir.Sei que é difícil.Mas isso tudo é tão,tão pouco.

P.S.: imagem do filme Aladdin,no momento em que toca " A whole new world "

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Aprendizes

Como não canso de querer, resolvi dar aulas de inglês, para tentar arrecadar algum dinheiro para um possível intercâmbio no começo do ano passado. O destino era Inglaterra e os alunos seriam os amigos do meu irmão, pestes que com certeza necessitavam de auxílio com a matéria .Acertei com eles e fiz a um preço muitíssimo bom,porque apesar de que as mães dos meus alunos sejam conhecidas e mostrem algum respeito por mim,é difícil dar tanta moral para um pirralha como eu.Enfim,assim sucedeu: eram oito alunos no total,aulas aos domingos (por preferência deles),aqui em casa.

No começo,tudo eram rosas.Eu realmente me animava por dar aulas e eles gostavam,se regozijavam por estar juntos e por responder às minhas perguntas.Mas como já se é bem sabido,crianças não fáceis.Na minha posição de teacher (rs),gostava de ficar analisando um por um,traçando perfis.E assim era,tinha a sabe-tudo,não que ela soubesse muito de inglês,mas era a mais aplicada e com uma memória invejável,que estava sempre batendo palminhas pelos seus acertos e se orgulhando dela mesma.Ela também gostava de me irritar querendo ser tão certinha a ponto de perguntar num dos meus momentos de estresse: “ Teacher,por que você está ficando tão vermelha ?” Advinha só o porquê.

Mas o que mais me cansava eram os meninos,para variar.Estavam sempre brincando,falando alto e impacientes ,querendo que a aula acabasse para que fossem jogar bola.E o meu irmão,que belo exemplo,fazia o favor de ser o mais perturbador de todos.Se eu pedia para que cada um repetisse uma palavra na sua devida vez,ele falava junto com outro aluno,para que quando chegasse a vez dele ele pudesse falar : Mas eu já “reapiti” .Estava sempre a bagunçar a mesa,a falar alto (chego a desconfiar que ele carrega um microfone dentro de si) e era o terror das meninas,morriam de medo de errar a pronúncia porque ele iria zombar.Amo muito ele,mas receio que ele vá se tornar um valetão,desses que tocam o terror.Porque é um bruto,o meu irmãozinho.

E tinha uma aluna muito fofinha,a que mais tinha medo do meu irmão.Ela nunca queria pronunciar nenhuma palavra e quando eu dirigia a palavra a ela,fingia que não ouvia.Era engraçado porque ela passava o tempo todo desejando que a aula acabasse,mas sempre me perguntava se não iria ter homework,quando seria a próxima prova e foi a primeira a me pedir para ter aulas nas férias.

São muitos alunos,para mim pelo menos.Enquanto eu esperava que os pais deles dissessem para a minha mãe algo do tipo: “Sua filha é excelente,porque não a manda agora para a Inglaterra ?”O que eles diziam de verdade era: “ O bom é que ela aprende também” Ahh... E ainda por cima esses alunos inventavam de faltar,todos juntos,depois de eu ter preparado a aula.

O que se passa é que me sinto como eles,meus alunos.Às vezes fico a pensar que eles ainda vão ter que aprender muita coisa para saberem o básico.Eles ainda vão perceber que não sabiam nada,mas que só tempo e prática ensinam.Sinto que sei muito pouco.Sinto que isso aqui é menos que o começo.Sinto que eu não entendo o que os outros falam.Sinto que preciso decidir o que fazer dessa vida,que rumo tomar - que curso escolher – Não saber o que fazer me aflinge e muito.

Me ocupei nessas férias pesquisando profissões,ou aquelas que me agradam.Aprendi muito pouco.O que me acrescentaram foi que devo seguir a área biológica,segundo um teste,sendo que depois de fazer um outro teste descubro que meu resultado foi sinal amarelo para medicina,”você precisa saber mais sobre a profissão” (sobre a profissão eu sei muito,garanto,só não sei passar no vestibular,ainda).Depois leio um pouco sobre Relações Internacionais,faço um teste e advinha: Sinal amarelo.Vocês sabem do que eu preciso saber.Por último faço o teste para ver se levo jeito para Direito e guess what: “O que você está esperando para começar o curso ? ” Ah...sei lá,ter idade,passar no vestibular,talvez.Parece estar estampado Direito na minha cara e eu até gosto,digo,gosto muito.Acontece que somos jovens decidindo o resto de nossas vidas.E pensar que eu devo escolher isto já,tendo tanta coisa para aprender sobre os meus gostos,sobre a vida,sobre mim...