terça-feira, 17 de julho de 2012

Sejamos bons jardineiros

Kimiko disse que ia contar uma história confidencial a respeito duma família norte-americana de suas relações. Pediu ao amigo que não lhe perguntasse nomes,porque ela não os revelaria.Pablo imaginou que Miss Hirota ia confiar-lhe um tenebroso segredo,um caso de assassínio ou incesto.

- Imagine - murmurou ela - que essa família possui em sua casa um jardim... Todos os sábados,o chefe corta a grama. Na época apropriada,poda as árvores, de vez em quando borrifa remédios nas plantas para matar parasitas... O jardim é lindo. Os membros da família o fotografam em cores. No verão comem e bebem à simbra de suas àrvores... No entanto, jamais comungam com o jardim, não têm intimidade com ele, não meditam sobre suas flores, sua grama, sua terra... Só pensam em comprar mais coisas para enfeitá-lo e torná-lo mais confortável: bancos,mesas, uma piscina pneumática, estatuetas de gesso... E ojardim continua incompreendido, um estranho... Não é horrível ?

Pablo soltou uma risada que chocou um pouco a japonesinha.Depois,baixando a voz à surdina oficial daquelas conversações, disse :

- Compreendo o que você quer dizer. Mas o homem americano, minha amiga, em geral tem a visão do engenheiro. E é essa visão que predomina no Ocidente. Queremos domesticar a natureza, domesticá-la,enfim,em nosso benefício.

O senhor embaixador

5 comentários:

Fran Carneiro disse...

Mas dando ao jardim um pouco da personalidade dele, não estaria, assim, o tornando mais íntimo?

Laís disse...

Ele busca na verdade encontrar utilidade no jardim,imprimindo-lhe,inclusive,suas preferências.É exatamente a relação homem-natureza,sem querer pagar de ambientalista,nossa personalidade está muito fincada nela : egoísmo e ambição desmedia.O homem não reconhece que o jardim depende dele ao mesmo tempo que ele depende do jardim,para alncaçar suas profundezas e bem-estar.Interpretei assim.

Laís disse...

Ou tome,por exemplo, Portugal. O Brasil colônia é o seu jardim,ou melhor,o seu quintal.Deu muito de sua personalidade: impôs sua cultura, suas regras, seus gostos. E no etanto nunca se tornou íntimo do Brasil,mal conhece o nosso país,que ao ter de seguir os hábitos alheios, perdeu sua identidade. O jardim não se torna íntimo recebendo as preferências e enfeitos de seu jardineiro, mas quando o jardineiro conhece o seu jardim e o respeita, zelando por ele e não o modificando segundo suas vontades. Portugal nem mesmo conseguiu colher os melhores frutos que seu jardim podia gerar: mesmo à frente de todos os outros países da Europa, até hoje é o mais pobre

Flá Costa * disse...

nossa passei aqui de novo e não creio que não comentei da primeira vez. o texto é seu? achei de um cuidado tão bonito. beijim

Milena M. disse...

O texto é seu, Laís? Achei uma reflexão muito válida. Até que ponto a gente pode imprimir nossa personalidade em algo sem detonar o que a coisa é? E quando não temos o direito de imprimir coisa alguma?
Complicado, complexo.
Beijo!